Para fevereiro de 2021 tinha combinado com Mainha de andar no final da tarde em um condomínio próximo de casa. É um condomínio aberto, que foi construído na antiga fazenda dos meus padrinhos. O lugar ainda tem bastante verde, dá para pegar um pôr do sol massa e não temos contato com tanta gente. É uma área bem grande. E lá fomos nós… Mesmo achando que andar como exercício físico é bem tedioso.
Alguns dias depois, uma amiga passou aqui com uma bicicleta. Havia comprado numa promoção no supermercado. Fiquei super empolgada. Logo pensei, posso andar de bicicleta pela fazenda. E eu sempre amei andar de bicicleta. Era a minha brincadeira favorita na infância e adolescência. Passeava pelos bairros próximos com as amigas. Em uma liberdade que talvez não exista mais para as crianças de hoje. Era tranquilo, seguro, divertido e saudável (né?!).
No mesmo dia fui comprar a bicicleta. Mas acredita que tive problema? Pois é… A bichinha estava com preço bom, mas o material não é tão legal. Só que não desanimei. Passei uma noite de sábado montando a bike com a ajuda de meu pai. Na verdade, ele montou e eu estava ajudando. Isso também me lembrou do tempo de infância em que ajudava meu pai a consertar o carro na garagem. Pelo menos eu achava que estava ajudando.
Só que a bike veio empenada. Mais um obstáculo. Exercitei a paciência. Fomos atrás de resolver o perrengue. E uma semana depois pude estrear a bike rosa, já apelidada de Maori. Ainda não terminei de pagar. Mas, já digo, valeu cada parcela.

A bike é simples. Não tenho pretensão de fazer ciclismo. Precisei comprar uma calça adequada para a prática porque é bem desconfortável e dolorido (risos) usar calças normais para praticar bicicleta. E desde então, no final da tarde, saio para aproveitar a melhor hora do dia: andar de bike e curtir o pôr do sol. E ainda tenho a possibilidade de sair de casa, respirar ar que não seja entre quatro paredes, desgrudar um pouco das telas digitais, ver gente - mesmo que de longe, fazer amizade com crianças - mesmo que de longe e apenas por sinais e gritinhos.
Percebi que não penso em muita coisa quando estou de bike. Fico mais observando meu corpo, respiração, e o caminho que percorro. E isso é ótimo. É realmente um momento para desestressar, aliviar a mente, só curtir a vibe. Mas na última semana algumas músicas começaram a tocar na cabeça e eu me deixei cantar. Cantar mesmo, em voz alta, com direito até a assobios.
A primeira foi “Simples assim”, do Lenine:
“[…]
É, eu ando em busca dessa tal simplicidade
É, não deve ser tão complicado assim
É, se eu acredito, é minha verdade
É simples assim
E a vida continua surpreendentemente bela
Mesmo quando nada nos sorri
E a gente ainda insiste em ter alguma confiança
Num futuro que ainda está por vir
Viver é uma paixão do inicio, meio ao fim”
A segunda foi “Poema”, de Ney Matogrosso:
“[...]
Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
Que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.”
E a terceira foi “Último romance”, dos Los Hermanos:
“[…]
E ir aonde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar
Ah vai!
Me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora, pego carona
Pra te acompanhar”
Eu não sou o tipo de pessoa que sabe a letra da música completa. Logo o que ficava cantarolando na cabeça eram partes das músicas. E é assim que eu tenho tentado sobreviver ao caos: bicicleta, pôr do sol e músicas boas.
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